Reuniões de Recolhimento
segundo os
Exercícios Espirituais
de Santo Inácio de Loyola
roteiro
1 - PRINCÍPIO E FUNDAMENTO e 14 REGRAS PARA VÁRIOS DISCERNIMENTOS DAS MOÇÕES DA ALMA
2 - 8 REGRAS PARA UM MAIOR DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS e TERCEIRO MODO DE ORAR
3 - O ESPÍRITO DE S. INÁCIO
4- 18 REGRAS PARA SE SENTIR COM A IGREJA
1ª Reunião
PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que o homem tanto há de usar delas quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve deixar-se delas, quanto disso o impedem.
Pelo que, é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta, e conseqüentemente em tudo o mais; mas somente desejemos e escolhamos o que mais nos conduz para o fim para que somos criados.
14 REGRAS PARA VÁRIOS DISCERNIMENTOS DAS MOÇÕES DA ALMA
313 Regras para de alguma maneira sentir e conhecer as várias moções que se causam na alma: as boas para as aceitar e as más para as rejeitar, e são mais próprias para a Primeira Semana.
314 1. Nas pessoas que vão de pecado mortal em pecado mortal, costuma ordinariamente o Inimigo propor-lhes prazeres aparentes, fazendo-lhes imaginar deleites e prazeres sensuais, para mais as conservar e fazer crescer em seus vícios e pecados. Com estas pessoas o bom espírito usa um modo contrário: punge-lhes e remorde-lhes a consciência pelo instinto da razão.
315 2. Nas pessoas que se vão intensamente purificando de seus pecados, e subindo de bem em melhor no serviço de Deus nosso Senhor, o modo de agir é contrário ao da primeira regra. Porque então é próprio do mau espírito morder, entristecer e pôr impedimentos, inquietando com falsas razões, para que não se vá para frente. E é próprio do bom espírito dar ânimo e forças, consolações, lágrimas, inspirações e quietude, facilitando e tirando todos os impedimentos, para que ande para diante na prática do bem.
316 3. Consolação espiritual. Chamo consolação, quando na alma se produz alguma moção interior, com a qual vem a alma a inflamar-se no amor de seu Criador e Senhor; e quando, conseqüentemente, nenhuma coisa criada sobre a face da terra pode amar em si mesma, a não ser no Criador de todas elas. E também, quando derrama lágrimas que a movem ao amor do seu Senhor, quer seja pela dor se seus pecados ou da Paixão de Cristo nosso Senhor, quer por outras coisas diretamente ordenadas a seu serviço e louvor. Finalmente, chamo consolação todo o aumento de esperança, fé e caridade e toda a alegria interior que chama e atrai às coisas celestiais e à salvação de sua própria alma, aquietando-a e pacificando-a em seu Criador e Senhor.
317 4. Desolação espiritual. Chamo desolação a todo o contrário da terceira regra, como obscuridade da alma, perturbação, inclinação a coisas baixas e terrenas, inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam a falta de fé, de esperança e de amor; achando-se a alma toda preguiçosa, tíbia, triste, e como que separada de seu Criador e Senhor. Porque assim como a consolação é contrária à desolação, da mesma maneira os pensamentos que provêm da consolação são contrários aos pensamentos que provêm da desolação.
318 5. Em tempo de desolação, nunca fazer mudança, mas estar firme e constante nos propósitos e determinação em que estava, no dia anterior a essa desolação, ou na determinação em que estava na consolação antecedente. Porque, assim como, na consolação, nos guia e aconselha mais o bom espírito, assim, na desolação, nos guia e aconselha o mau, com cujos conselhos não podemos tomar caminho para acertar.
319 6. Uma vez que no tempo de desolação não devemos mudar as resoluções anteriores, aproveita muito reagir intensamente contra a mesma desolação, por exemplo insistindo mais na oração, na meditação, em examinar-se muito e em alargar-nos nalgum modo conveniente de fazer penitência.
320 7. O que está em desolação considere como o Senhor o deixou em prova, nas suas potências naturais, para que resista às várias agitações e tentações do inimigo; pois pode fazê-lo com o auxílio divino, que sempre lhe fica, ainda que o não sinta claramente; porque o Senhor lhe subtraiu o seu muito fervor, o grande amor e a graça intensa, ficando-lhe, contudo, graça suficiente para a salvação eterna.
321 8. O que está em desolação trabalhe por manter-se na paciência que é contrária às vexações que lhe advêm, e pense que será depressa consolado, se puser a diligência contra essa desolação, como se disse na Sexta regra.
322 9. Três são as causas principais por que nos achamos desolados: A primeira é por sermos tíbios, preguiçosos ou negligentes em nossos exercícios espirituais. E assim, por nossas faltas, se afasta de nós a consolação espiritual. A segunda, para nos mostrar de quanto somos capazes e até onde nos alargamos no seu serviço e louvor, sem tanto dispêndio de consolações e grandes graças. A terceira, para nos dar verdadeira informação e conhecimento, com que sintamos internamente que não depende de nós fazer vir ou conservar devoção grande, amor intenso, lágrimas nem nenhuma outra consolação espiritual, mas que tudo é dom e graça de Deus nosso Senhor. E para que não façamos ninho em propriedade alheia, elevando o nosso entendimento a alguma soberba ou vanglória, atribuindo a nós a devoção ou as outras formas de consolação espiritual.
323 10. O que está em consolação pense como se haverá na desolação que depois virá, e tome novas forças para então.
324 11. O que está consolado procure humilhar-se e abater-se quanto puder, pensando para quão pouco é, no tempo da desolação, sem essa graça ou consolação. Pelo contrário, o que está em desolação pense que pode muito com a graça suficiente para resistir a todos os seus inimigos, e tome forças no seu Criador e Senhor.
325 12. O inimigo porta-se como uma mulher: fraco ante a resistência, e forte, ante a condescendência. Porque assim como é próprio da mulher, quando briga com um homem, perder ânimo e pôr-se em fuga, quando o homem lhe mostra rosto firme; e, pelo contrário, se o homem começa a fugir e perde a coragem, a ira, a vingança e a ferocidade da mulher é muito grande e se torna desmedida. Da mesma maneira, é próprio do inimigo enfraquecer e perder ânimo, dando em fuga com suas tentações, quando a pessoa que se exercita nas coisas espirituais enfrenta, sem medo, as tentações do inimigo, fazendo o diametralmente oposto. E, pelo contrário, se a pessoa que se exercita começa a ter temor e a perder ânimo em sofrer as tentações, não há besta tão feroz sobre a face da terra, como o inimigo da natureza humana, no prosseguimento da sua perversa intenção, nem com uma tão grande malícia.
326 13. Porta-se também como um namorado frívolo, querendo ficar no segredo e não ser descoberto. Porque, assim como um homem frívolo, que, falando com má intenção, solicita a filha dum bom pai ou a mulher dum bom marido, quer que as suas palavras e insinuações fiquem secretas; e, muito lhe desagrada, pelo contrário, quando a filha descobre ao pai, ou a mulher ao marido, suas palavras frívolas e sua intenção depravada, porque facilmente deduz que não poderá realizar a empresa começada. Da mesma maneira, quando o inimigo da natureza humana vem com as suas astúcias e sugestões à alma justa, quer e deseja que sejam recebidas e tidas em segredo; mas pesa-lhe muito, quando a alma as descobre ao seu bom confessor ou a outra pessoa espiritual que conheça seus enganos e maldades, porque conclui que não poderá levar a cabo a maldade começada, ao serem descobertos seus evidentes enganos.
327 14. Comporta-se também como um chefe militar para vencer e roubar o que deseja. Porque, assim como um capitão e chefe dum exército, em campanha, depois de assentar arraiais e examinar as forças ou a disposição dum castelo, o combate pela parte mais fraca, da mesma maneira o inimigo da natureza humana, fazendo a sua ronda, examina todas as nossas virtudes teologais, cardeais e morais, e por onde nos acha mais fracos e mais necessitados para a nossa salvação eterna, por aí nos atacam e procuram tomar-nos.
2ª Reunião
8 REGRAS PARA UM MAIOR DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
328 Regras para o mesmo efeito com maior discernimento de espíritos, e são mais convenientes para a Segunda Semana.
329 1. É próprio de Deus e dos seus anjos, em suas moções, dar verdadeira alegria e gozo espiritual, tirando toda a tristeza e perturbação que o inimigo suscita. Deste é próprio lutar contra a alegria e consolação espiritual, apresentando razões aparentes, subtilezas e contínuas falácias.
330 2. Só a Deus nosso Senhor pertence dar consolação à alma sem causa precedente. Porque é próprio do Criador entrar, sair, produzir moção na alma, trazendo-a toda ao amor de sua divina majestade. Digo: sem causa, isto é, sem nenhum prévio sentimento ou conhecimento de algum objeto pelo qual venha essa consolação, mediante seus atos de entendimento e vontade.
331 3. Com causa, pode consolar a alma, assim o anjo bom como o mau, para fins contrários: o bom anjo para proveito da alma, afim de que cresça e suba de bem em melhor; e o mau anjo para o contrário, e para ulteriormente trazê-la à sua perversa intenção e maldade.
332 4. É próprio do anjo mau, que se disfarça em anjo de luz, entrar com o que se acomoda à alma devota e sair com o que lhe convém a si, isto é, trazer pensamentos bons e santos, acomodados a essa alma justa, e, depois, pouco a pouco, procurar sair-se, trazendo a alma aos seus enganos encobertos e perversas intenções.
333 5. Devemos estar muito atentos ao decurso dos pensamentos. Se o princípio, meio e fim são inteiramente bons, inclinando a tudo bem, é sinal do bom anjo. Mas se no decurso dos pensamentos que traz, acaba nalguma coisa má, ou menos boa que aquela que a alma antes propusera fazer, ou a enfraquece, ou inquieta, ou perturba, tirando-lhe a sua paz, tranqüilidade e quietude que antes tinha, é claro sinal que procede do mau espírito, inimigo do nosso proveito e salvação eterna.
334 6. Quando o inimigo da natureza humana for sentido e conhecido pela sua cauda serpentina e pelo mau fim a que induz, aproveita à pessoa que por ele foi tentada, verificar logo o decurso dos pensamentos que ele lhe trouxe, e o princípio deles, e como, pouco a pouco, procurou fazê-la descer da suavidade e gozo espiritual em que estava, até trazê-la à sua intenção depravada. Para que, com tal experiência, conhecida e notada, se guarde, daí por diante, de seus habituais enganos.
335 7. Naqueles que progridem de bem em melhor, o bom anjo toca-lhes a alma doce, leve e suavemente, como gota de água que penetra numa esponja; e o mau anjo toca agudamente, com ruído e agitação, como quando a gota de água cai sobre a pedra; e aos que vão de mal em pior, os mesmos espíritos tocam-nos de modo oposto. A causa desta diversidade está na disposição da alma ser contrária ou semelhante à dos ditos anjos. Porque, quando é contrária, entram com ruído e comoção, de maneira perceptível; e quando é semelhante, entram silenciosamente, como em casa própria, de porta aberta.
336 8. Quando a consolação é sem causa, embora nela não haja engano, por provir só de Deus nosso Senhor, como dissemos [330]; contudo a pessoa espiritual, a quem Deus dá essa consolação, deve observar e distinguir, com muita vigilância e atenção, o tempo próprio dessa consolação do tempo que se lhe segue, em que a alma fica quente e favorecida com o favor e os restos da consolação passada. Porque, muitas vezes, neste segundo tempo, por seu próprio raciocínio feito de relações e deduções de conceitos e juízos, ou pelo bom espírito ou pelo mau, forma diversas resoluções e opiniões que não são dadas imediatamente por Deus nosso Senhor. E, portanto, é necessário examiná-las muito bem, antes de se lhes dar pleno crédito e de se porem em prática.
TERCEIRO MODO DE ORAR
258 Será por compasso de respiração. A adição será a mesma que no primeiro e segundo modo de orar [239, 250]. A oração preparatória será como no segundo modo de orar [251, 240]. O terceiro modo de orar é que, a cada alento ou respiração, se há de orar mentalmente, dizendo uma palavra do Pai Nosso ou de outra oração que se reze, de maneira que se diga uma só palavra entre uma respiração e outra; e, durante o tempo duma respiração à outra, se atenda principalmente à significação dessa palavra, ou à pessoa a quem reza, ou à baixeza de si mesmo, ou à diferença entre tanta alteza e tanta baixeza própria; com a mesma forma e regra procederá nas outras palavras do Pai Nosso; e as outras orações, a saber, ave-maria, Alma de Cristo, Credo e salve-rainha, as rezará como costuma.
259 Primeira regra. No dia seguinte, ou noutra hora que deseje orar, diga a Ave Maria por compasso, e as outras orações, como costuma; e assim sucessivamente proceda nas outras orações.
260 Segunda regra. Quem quiser deter-se mais na oração por compasso, pode dizer todas as orações sobreditas ou parte delas, seguindo a mesma maneira da respiração por compasso, como está explicado [258].
3ª Reunião
A VERDADEIRA FONTE DO ESPÍRITO DA CONGREGAÇÃO MARIANA
Dixit autem Maria ecce ancilla Domini fiat mihi secundum verbum tuum. Luc., i, 38.
SOBRE O AUTOR
O padre Hugo Rahner é natural de Baden (Alemanha), onde nasceu em maio de 1900. Aos dezenove anos, ingressou na província da Companhia de Jesus da Alta Alemanha. Por muitos anos, tanto como estudante quanto como professor de Patrologia e História da Igreja, seu nome esteve intimamente ligado a Innsbruck, no Tirol austríaco, onde, além de ensinar, ocupou dois importantes cargos administrativos, o de Reitor da Universidade e Reitor da Faculdade de Teologia.
Nos círculos acadêmicos, tanto na Europa quanto na América, a reputação de Pe. Rahner é ampla e genuinamente estimada. Os livros, as muitas monografias e artigos por ele assinados o estabeleceram solidamente como um pensador teológico originalmente profundo.
Por causa do parentesco próximo entre o Pe. Hugo Rahner e seu irmão mais novo, Pe. Karl Rahner, também jesuíta e renomado professor de Teologia Dogmática de Innsbruck, às vezes é confundido com ele.
"Ignatius von Loyola und das geshichtliche Werden seiner Frommigkeit", do padre Hugo Rahner, disponível em inglês sob o título de "The Spirituality of St. Ignatius of Loyola", foi considerado uma contribuição magistral para os estudos inacianos. É sua competência como historiador e mestre da espiritualidade inaciana que valoriza o presente estudo sobre o espírito da Congregação Mariana.
INTRODUÇÃO
Muitos panfletos foram publicados sobre os assuntos relacionados à Congregação Mariana. Muitos artigos em várias revistas da Congregação, especialmente após a publicação da 'Carta Magna' do Papa Pio XII, trataram dos aspectos essenciais da verdadeira Congregação nos tempos modernos, sob múltiplos pontos de vista: histórico, teológico, canônico, espiritual e técnico. Muitos deles contribuíram muito para o renascimento contemporâneo da Congregação.
Elevando-se acima de tudo isso, está o presente ensaio do Pe. Hugo Rahner sobre a “VERDADEIRA FONTE DO ESPÍRITO DA CONGREGAÇÃO”, que não apenas desperta algum entusiasmo artificial vindo de fora, mas também recupera seu significado interior, reorientando-a em sua verdadeira fonte, os Exercícios Espirituais de S. Inácio.
Pe. Rahner mostra de maneira convincente que o espírito da Congregação é o próprio espírito dos Exercícios Espirituais inacianos, enfatizando cinco características importantes da composição dos exercícios. Sua inspiração básica é o ideal mais elevado de sempre procurar o "mais" e o "melhor"; esse espírito, tão típico de Santo Inácio, admiravelmente se encaixa na Congregação, que apela à elite espiritual. Nessa busca pela maior glória de Deus, como Santo Inácio, o congregado deve tomar sua decisão rápida na Batalha Espiritual. Tendo tomado partido de Cristo, a vida dos congregados, como a dos primeiros retirantes de Manresa, é de generosidade, como que uma crucifixão ao serviço de Cristo. Dessa generosidade nasce nos congregados e nos retirantes o desejo ardente de conquistar o mundo com Cristo que faz a todos apóstolos. Esse zelo, no entanto, de acordo com o espírito prático inaciano, não se queima com entusiasmo vazio, mas se materializa em serviço sóbrio e humilde na Igreja de Cristo, sob a hierarquia. Essas cinco características são essenciais não apenas para os exercícios, mas também constituem o verdadeiro espírito jovem e mariano. É por isso que a Congregação, como os Exercícios, apela principalmente à generosidade da juventude no seguimento de Cristo, sob o manto de Maria. Isso explica por quê a verdadeira Congregação, não menos que os verdadeiros Exercícios Espirituais, é destinada apenas à elite.
Não é de admirar, então, que tanto a Bis Saeculari quanto as Regras Comuns da Congregação insistam tanto que os congregados façam os Exercícios Espirituais. A regra 9 afirma: "Deve haver um retiro todos os anos em alguns dias, encerrando com uma Comunhão geral... Certamente, o retiro mais frutífero é o tipo chamado "fechado ". Se isso não puder ser feito, e se nem o dia inteiro puder ser dado aos exercícios, é bom que o retiro seja realizado em, pelo menos, 6 dias, com ao menos dois períodos diários, manhã e tarde, com leitura espiritual, meditação, conferência, Santa Missa e Terço como os principais exercícios.” E o Papa Pio XII atribui, em primeiro lugar, entre o que há de mais útil e ajuda a formar seguidores perfeitos e sinceros de Cristo, os Exercícios Espirituais e a prática da meditação diária. É pela observância das Regras, muito mais do que pelo aumento de seus membros, que ele espera que a Congregação forneça à Igreja “arautos incansáveis da Virgem Mãe de Deus e propagadores totalmente treinados do reino de Cristo”.
Podem os Diretores de Congregação, para quem o estudo do Pe. Rahner deve ser particularmente inspirador, compreender que aqui não está em questão simplesmente observância fiel de apenas mais uma regra entre muitas, mas que a própria vida de sua Congregação está em jogo! Histórica e espiritualmente, a Congregação depende dos Exercícios Espirituais. Não pode haver Congregação verdadeira sem o retiro, tal como não pode haver um Inácio sem Manresa. O espírito da Congregação é o espírito dos Exercícios Espirituais. Em qualquer Congregação, portanto, a renovação pode ser obtida apenas na primavera, através de retiros fechados.
Os fatos provam que este não é um ideal utópico. Em novembro de 1952, os estudantes da Congregação da Universidade de Wurtzburg patrocinaram o retiro fechado de nada menos que 5 dias. Em 1953, um grupo de 76 estudantes congregados da Universidade John Carroll de Cleveland (Ohio, EUA) fez um retiro de 8 dias em completo silêncio, após o qual muitos pediram o privilégio de fazer o retiro completo de 30 dias!
Áustria, Suíça e Canadá estão agora os imitando. Além disso, durante muitos anos, as Congregações em vários países se mostraram as melhores promotoras do "Movimento dos Retiros". A seção de retiros da Congregação de Moços de Bombaim brilha como um exemplo disto na Índia.
Aqui, portanto, reside o segredo da revitalização de todas as Congregações, reorientando-as para sua verdadeira primavera: os exercícios espirituais.
Permita que Pe. Rahner o convença disso.
Somos muito gratos à Academia da Congregação de West Baden (EUA) por termos nos dado o uso gratuito da tradução em inglês preparada por seus membros.
VOLTA ÀS ORIGENS
Avaliada à luz de sua história, sua estrutura interna e seus objetivos, a Congregação Mariana é uma organização de grande importância na vida da Igreja Católica. Ao mesmo tempo, ela sofreu com uma estranha interpretação distorcida nas mentes e sentimentos de muitos cristãos de nossos dias, que passaram a considerá-la apenas como uma associação de oração devota fundada principalmente para mulheres. Por esse motivo, será proveitoso tentar descrever o significado da Congregação a partir de dois pontos de vista - tanto o espiritual quanto o histórico. Para entender a natureza de qualquer organização histórica que ao longo do tempo evoluiu, se dividiu e se subdividiu e, com o passar do tempo, se tornou extremamente complexa, precisamos voltar e examinar suas origens para obter informações valiosas que esse estudo fornecerá.
A Congregação é uma associação da Companhia de Jesus; tem sua concepção, seu nascimento e seu crescimento supervisionados pela Companhia. Eventualmente, a Igreja hierárquica se identificou com ela e assumiu sua orientação completa. Este passo, tornado necessário pela ocasião da supressão da Companhia de Jesus em 1773, testemunha de maneira significativa, embora indireta, a importância da Congregação aos olhos da Igreja.
Os primórdios jesuítas da Congregação são agora apenas uma história remota. A Igreja universal a absorveu completamente. Ainda é imperativo, no entanto, que retornemos em nosso pensamento às origens da Congregação para que possamos delinear com mais precisão o seu ideal.
O ESPÍRITO DE S. INÁCIO SEMPRE 'MAIS' e 'MELHOR'
Começaremos com o fato fundamental de que todas as forças apostólicas em ação na nascente Companhia de Jesus podem ser explicadas pelos exercícios espirituais daquele livro de autoria de Santo Inácio, que deixou sua marca na história. Este pequeno volume é um resumo notável de todas as forças que fizeram do Fundador da Companhia de Jesus um santo da Igreja, mesmo em seus dias.
A vida de Santo Inácio revela esse fenômeno cristão básico, claramente rastreável nos documentos, que está no cerne da vida da graça e que emana do próprio Cristo: a nova e constante transição do bem para o melhor que ocorre no coração e na alma humana individual é a força motriz da "insatisfação" cristã, um ardor que nunca diz "É o suficiente".
É uma percepção experimentada apenas em uma conversão de proporções sísmicas - que resulta na transformação de toda a vida de um homem em nada menos que uma paixão pelo que é sempre o maior. É o insight que preserva o criativo, a força motora inerente à mensagem cristã.
Teologicamente, podemos resumir o ideal dos Exercícios Espirituais em uma palavra simples e uma frase preciosa para o coração de Inácio desde o primeiro momento de sua conversão a Deus: a palavra “mais” e a frase “para promover a salvação de almas”.
Nos exercícios, “mais” significa uma identificação cada vez mais próxima com o Cristo crucificado, que somente por esse ato conquistou o mundo. "Promover a salvação de almas" significa ser dotado de uma visão da verdade impressionante de que Cristo tornou o resultado de Sua obra salvífica e o destino de Sua Igreja dependentes da cooperação do homem. Significa uma percepção interior de que o sucesso da obra de Deus também é (embora não totalmente) medido por essa alegria e altruísmo de servir tão característicos daqueles que atendem e compreendem o chamado do rei do mundo e que discernem em sua convocação o desafio de fazer mais no futuro.
Podemos chamar isso de 'teologia do comparativo'.
Em linguagem mais clara e menos compacta, é uma afirmação do fenômeno cristão que na vida da Igreja sempre deve haver uma elevação acima do comum para que haja alguma gradação. A vida cristã flui apenas se as fontes dessa vida forem encontradas no alto das montanhas. Como conseqüência, nunca pode ser estabelecido um nível comum de “meramente cristão” que todos possam alcançar, sem que o cristão pereça em uma normalidade e mediocridade efêmeras e mundanas. É de acordo com essa estrutura sociológica básica que a graça é comunicada na Igreja dAquele que nos redimiu pela superabundância de Seu amor. 2
Essa “insatisfação” dominou São Paulo quando ele escreveu: “Não que eu tenha me aperfeiçoado, mas continuo esperando que possa me apossar daquilo pelo qual Cristo Jesus me apossou” .3
O fundamento teológico está enraizado na essência mais profunda de Deus, que se revela em Cristo. Segundo Santo Agostinho, Deus é o Deus sempre maior: “Ele sempre é maior, por mais que tenhamos crescido.” 4
Nenhuma aspiração do amor, por maior que seja, pode corresponder a Ele; a medida do nosso amor é sempre o amor de Cristo, que não conhece limites.
Também devemos compreender que o processo de salvação operativo dentro da Igreja prossegue seu objetivo com cada vez mais veemência, de modo que o chamado dado a todos os membros do Corpo Místico de Cristo para cooperar na salvação da humanidade se torne sempre mais enfático e urgente.
No entanto, isso pode ser conseguido apenas por certas almas - aquelas que chegaram a entender que, em última análise, essa salvação não é efetuada pelas massas, nem por uma organização, nem é assegurada pelo governo normal e comum da Igreja. Só é alcançada por aquelas almas que entenderam o que aquela pequena palavra magis significa: algo mais, algo maior, algo melhor, algo feito com mais amor. A esses homens do magis Inácio pertence.
Por meio dos exercícios, ele levaria os homens a uma apreciação viva do significado central do magis - tudo para a maior glória de Deus - para que toda a vida deles fosse carimbada por ele. Os primeiros jesuítas, com toda humildade, decidiram ser uma comunidade de tais homens - homens nos quais Jesus Cristo havia se firmado. Foi com esse espírito que empreenderam seus primeiros trabalhos apostólicos. No desenvolvimento histórico da Igreja moderna, os Exercícios são de importância primordial.
Eles capturaram e mantiveram dentro de limites razoáveis o espírito que moldou os tempos modernos. Foi o renascimento humanista que fez a tumultuada descoberta do eu pessoal; e a partir disso, um fato se tornou cada vez mais evidente: a conquista do mundo somente para Cristo sempre acontece em um ponto decisivo - onde a graça de Deus encontra a alma já consciente de que tem o poder de decisão para determinar sua eternidade. Até esse ponto, e somente na medida em que Cristo, o Senhor deste mundo, encontrar almas que se renderão com um amor sem reservas aos exigentes magis da palavra de Deus, o retorno do mundo a Deus se tornará realidade.
UM ESPÍRITO JOVEM
Sem dúvida, é característico de uma atitude juvenil da alma ser sempre mais receptivo àquilo que é maior, permanecer sempre sendo aquele que cresce (já que Deus nunca é alcançado), nunca dizer “basta”. Para todos aqueles moldados no espírito dos Exercícios, uma palavra a mais, tão cheia de energia juvenil, é o critério de genuinidade. O que é comum a todas as Congregações em todas as faixas etárias é o “crescimento” cristão. Esta é uma tendência a um estado de vida ainda inalcançável; é, em termos cristãos simples, a luta pela plenitude de Cristo, um amadurecimento na Graça.
Em 1610, o padre Spinelli observou que a Congregação se esforça não apenas para cumprir fielmente o que a lei divina ordena, mas também para trabalhar zelosamente para que todos os congregados possam se distinguir mais a cada dia em seus esforços de piedade. 5
Vemos imediatamente que toda Congregação deve ser um grupo de cristãos que, longe de "se aposentar", ainda estão bem acordados, que ainda são receptivos ao mais (ou seja, dessas demandas crescentes do cristianismo), que não são os cidadãos monótonos e sem inspiração, os burgueses complacentes do reino de Deus.
Sem dúvida, existem muitas definições excelentes da Congregação. Eles tentam esboçar de forma concisa as notas essenciais dessa organização. Mas todas elas, ao que parece, estão preocupadas demais apenas com os elementos "estáticos", os estatutos da Congregação. Veja, por exemplo, A definição de Pe. Wernz estabelecida na primeira seção das Regras gerais.
Em vez disso, tentamos compreender a natureza "dinâmica" da Congregação, voltando à estrutura fundamental dos Exercícios. Devemos remover a Congregação da estrutura estática de uma mera associação e tentar observar e analisar parte do entusiasmo juvenil que, em seus primeiros inícios, tornou a Congregação tão grande. Compreenderemos esse ideal da Congregação mais facilmente se tentarmos desenvolver em mais detalhes a estrutura fundamental dos Exercícios.
DECISÃO NA BATALHA ESPIRITUAL UNIDOS SOB O ESTANDARTE DE CRISTO
No início de sua própria conversão a Deus, a primeira realização que atingiu Santo Inácio foi uma visão do conflito secreto entre os espíritos que dirigem e determinam toda a história, uma visão da luta entre Cristo e Satanás. Numa iluminação emocionante e bem definida, Inácio percebeu que alguma força terrível existe no mundo, mas que é a primeira e a última nas profundezas da alma humana. Sua autobiografia tem a dizer sobre sua experiência: “Dessa maneira, ele gradualmente passou a distinguir entre o espírito de Satanás e o espírito de Deus. Esta foi a primeira descoberta que ele fez sobre coisas divinas. Mais tarde, depois de fazer os Exercícios Espirituais, ele começou a tirar iluminação dessa experiência por meio de seus ensinamentos sobre o discernimento de espíritos.” 6
A Congregação, portanto, é uma associação de almas que, como Inácio, percebem que, embora esteja disfarçado de assuntos terrestres, políticos e sociais puramente visíveis, há uma luta secreta de tremenda conseqüência ocorrendo neste mundo: a luta entre Cristo e Satanás, o drama épico da redenção, da morte de Nosso Senhor à Sua visível e segunda vinda. A Congregação é uma união de almas que entendem que “o diabo está em geral” 7 e “o bom amigo está presente” todos os dias até o fim dos tempos. O mundo está secretamente e para sempre marchando sob dois padrões. "Babilônia" e "Jerusalém" estão em conflito na batalha aberta. O objetivo da Congregação é unir sob um padrão aquelas almas que, no calor do combate, perceberam que o mero conformismo, auto-complacência e falta de agressividade nunca obterão a vitória.
SEMPRE ALERTA
Da realização dessa verdade decorre um dos princípios essenciais da Congregação: sua participação deve ser seletiva; deve ser formada a partir da elite espiritual. Ainda mais hoje do que no passado, a Congregação deve ser uma união de cristãos que incorporam toda a mentalidade, o espírito dos primeiros cristãos frequentemente enfatizado nos Evangelhos, que é chamado de "vigilância" ou "atenção". 8 " Fique sóbrio e vigie, porque o seu adversário, o Diabo, anda como um leão que ruge, a quem ele pode devorar. ” 9 Esse“ estado de alerta ”é algo sempre novo. É uma disposição para ajudar sempre que algo estiver "errado". Esse alerta para tudo é um instinto nativo da juventude. Se uma Congregação é viva e genuína, promove esse instinto. Mas, dessa maneira, o ardor da juventude é, por assim dizer, batizado e se dedica a essas causas dignas de uma dedicação sincera. Todo educador de jovens testemunhará como surpreendente e alarmantemente todos os jovens que se dignaram a si serem confiados estão diante do grande drama, do poder arrebatador da luta que Cristo Rei inaugurou nesta terra com a espada de Seu espírito. Por outro lado, toda Congregação, mesmo composta de cristãos maduros, permanecerá fiel ao seu espírito apenas na proporção em que seus membros compreenderem, alertando-se sempre novamente sobre a irreconciliação entre Cristo e Satanás, que apresenta constantemente novos problemas para todos os cristãos vivos.
COM MARIA AO NOSSO LADO
De um modo ou outro, o congregado deve ser como o jovem Inácio que, em sua cama doente, despertou de seu estado de espírito medíocre para perceber a decisão necessária a ser tomada. Tanto em sua autobiografia quanto nos Exercícios, é nesse sentido que Inácio fala primeiro de Nossa Senhora. Na visão de sua aparência sublime, os espíritos começaram a discriminar, a tomar partido dentro de sua alma. “Ele recebeu um consolo tão incomum e tão grande e ficou cheio de tanto desgosto por toda a sua vida passada, em particular pelas coisas da carne, que lhe pareceu que todas as imagens que antes enchiam sua alma haviam desaparecido. ” 10
Com notável clareza, essas palavras divulgam quando e como, na história secreta da alma do santo, Maria coloca em operação o trabalho que na economia da salvação lhe pertence de uma maneira singular como Mãe de Deus. Do Proto-Evangelho 11 ao décimo segundo capítulo do Apocalipse, ela é a sublime Senhora do Discernimento dos Espíritos; o grande sinal de batalha entre a Palavra e a Serpente. Sempre que há uma questão de algum momento crucial nas batalhas de Deus, ela está sempre presente. É por isso que ela aparece, naturalmente, nos Exercícios, no ponto em que o exercitante deve tomar sua primeira decisão real: a decisão clara e interior de se afastar de tudo o que é pecaminoso, aprofundando-se em um conhecimento íntimo do que é pecaminoso, o que é mundano, o que se opõe a Deus em suas próprias raízes. “A primeira conversa será com Nossa Senhora Santíssima, para que ela obtenha de seu Filho a graça para mim [de] um profundo conhecimento dos meus pecados ... [e] que eu possa afastar de mim tudo o que é mundano e vaidoso.” 12 Imediatamente depois, quando o exercitante é confrontado com a possibilidade de poder ir para o inferno e quando a convicção envolvente amadurece nele que a história de todos os espíritos criados é determinada pela Encarnação, 13 ali também a grande Senhora entra como uma figura decisiva. Foi ela quem tornou possível para nós a vinda de Cristo.
Este é, portanto, o primeiro grande aspecto sob o qual a Congregação apresenta a seus membros a imagem da Mãe de Deus. Todo verdadeiro congregado deve se tornar um daqueles cristãos totais que tomou sua decisão, que compreende completamente o que está envolvido e o que se espera dele. Maria deve tornar-se para ele, na verdade, a Domina Mundi: a Senhora do mundo. Acima de tudo, ele deve olhá-la e amá-la como a Conquistadora da Serpente. Ela é Nossa Senhora do Discernimento dos Espíritos.
SEGUINDO O REI CRUCIFICADO CARREGANDO SUA SEMELHANÇA
A segunda coisa que Santo Inácio percebeu, desde o início, foi a convicção ardente de que somente o 'eu mesmo' pode reivindicar a vitória nesta batalha que deseja se distinguir no serviço de Cristo Rei. Para fazer isso, deve imitar a Cristo da maneira que Ele escolheu, que é a vitória por meio da Cruz.
Quando nos Exercícios, Inácio faz com que Cristo, o Rei, diga: “É minha vontade conquistar o mundo inteiro e todos os meus inimigos e, assim, entrar na glória de meu Pai”, 14 a conclusão imediata, porém surpreendente, de Inácio é a seguinte: “ Aqueles que desejam dar uma prova maior de seu amor e se distinguir a serviço de seu eterno rei e senhor de todos ... agirão contra sua sensualidade e seu amor carnal e mundano. ” 15 O corolário dessa alegria e nobre auto-ressurreição, esta oferta de serviço leal sob o padrão de Cristo Rei, é o insight de que a vitória de Cristo deve começar nas profundezas da própria alma. Antes de tudo, devemos ser vitoriosos na defesa das fronteiras de nossos próprios corações, se quisermos lutar lado a lado com Cristo em Sua conquista do mundo por Deus. Em resumo, devemos nos tornar homens dos magis possuidores de uma única paixão (nessas palavras, que ecoam a Fundação): “Nosso único desejo e escolha deve ser o que é mais favorável ao fim para o qual somos criados.” 16 Os Exercícios revelam inequivocamente isto como uma semelhança cada vez maior com o Senhor crucificado (no famoso terceiro grau de humildade, 17 a cúpula dos Exercícios) e com ele a percepção ardente, porém sóbria, de que não há vitória para o reino de Cristo o que não depende da abnegação daquele que ouviu o chamado do rei.18 De tudo isso, chegamos à nossa conclusão. A Congregação inscreve homens que escreveram a palavra mais sobre seus padrões. Eles devem ser congregados que, na meditação do reino, são chamados de "pronto" e "diligente", que querem colocar aos pés de seu rei e Senhor "ofertas de maior valor".19 Essa oblação consiste em uma prontidão para se tornar como o rei que somente através de Seus trabalhos trouxe o mundo de volta ao Pai. Basicamente, isso significa abnegação, a própria santificação através da assimilação ao Crucificado.
Mesmo em 1601, lemos no Manuale Sodalitatis: “O primeiro objetivo de uma Congregação deve ser o cultivo de uma vida mais perfeita como a vida de Cristo.” 20 Será, então, um desafio para uma pedagogia sábia determinar como apresentar a quantidade correta de seletividade e, de uma maneira cristã significativa, levando em consideração a idade, o status social e a educação de cada candidato à Congregação. É aqui, acima de tudo, que a elite se distingue das massas.
A preeminência concedida à vida interior em toda genuína Congregação baseia-se no insight que transforma todo pensamento e a vida: a percepção de que todo entusiasmo pelo chamado de Cristo Rei deve ser traduzido na pronta disposição de lutar contra o mundo e a sensualidade. Em sua Constituição Apostólica Bis Saeculari, o Papa Pio XII chama isso de “a perfeição da vida espiritual”. 21 O Papa lista então os meios que todos devem usar para seguir a Cristo perfeitamente e sem qualificação. Esses meios são os Exercícios Espirituais, meditações diárias e exames de consciência, uma vida sacramental fervorosa e a direção e o conselho de um Pai espiritual. 22 Não é assim que vive um homem cuja vida foi transformada pelos Exercícios Espirituais? É através dos Exercícios Espirituais, ou, mais precisamente, através do insight fundamental derivado da meditação sobre o reino que toda Congregação deve renovar-se repetidamente. Esse insight é uma vontade interior, conquistadora, de se conformar com o Crucificado, que é construída e propagada. É através de uma renovação do espírito dos Exercícios, repetidamente feita, que qualquer Congregação se mantém, e através de sua negligência que qualquer Congregação se deteriora e, finalmente, entra em colapso.
Não vamos longe demais quando afirmamos que toda Congregação genuína pode competir, humildemente e ainda com um orgulho justo em Cristo, com qualquer outra organização do mesmo tipo dentro da Igreja nesta questão, de acordo com uma importância de primeira ordem para a vida interior e seu cultivo. A vida espiritual não é apenas mais uma fase do programa da Congregação; é isso que a Congregação, embora o exercício diário, tenta promover e integrar na vida cotidiana dos congregados por toda a vida. Além disso, a Congregação faz isso baseando-se em princípios que resistiram a todas as mudanças, que se provaram diante de toda crítica e toda moda espiritual passageira. Na Igreja dAquele que venceu na cruz, não há escolha real entre ação e vida interior, entre fazer e orar, a não ser uma ênfase básica sobre a vida interior. Eles sozinhos são verdadeiros apóstolos que perceberam isso de uma maneira vital e orante - ou seja: almas a quem a realidade invisível, mas muito mais real, das coisas interiores foi revelada, almas que experimentaram o genuinamente duradouro, coisas genuinamente celestes do Reino dos Céus. Mas essas coisas são reservadas apenas e sempre para aqueles que se dedicam amorosa e alegremente durante toda a vida à lei fundamental de Cristo Rei: “Você deve trabalhar comigo e entrar na glória de Meu Pai.” 23 A formação de esse tipo de alma é a primeira e mais básica tarefa da Congregação.
A JUVENTUDE RESPONDE GENEROSAMENTE
Altas demandas desse tipo atingem a mente e o coração de uma sensível parcela da juventude. Pertencer àqueles que são amantes viris, àqueles que estão prontos para a ação, àqueles que nem sempre se tratam com delicadeza, que estão dispostos a fazer sacrifícios, àqueles que começarão a luta dentro de si - isso é ter o verdadeiro espírito de juventude. Somente com esse tipo de alma Cristo pode empreender qualquer coisa para o progresso de Seu Reino. Toda reforma na Igreja sempre teve sua origem nessa maior demanda feita à generosidade juvenil.
Não podemos começar cedo o suficiente para formar tal elite. É por isso que a esperança total da Igreja depende da constante e renovada formação de grupos de almas fiéis. Esta é a missão mais nobre da Congregação.
O Papa Pio XII chamou esse espírito, tão necessário a toda Congregação, generosidade. 24 É exatamente o que Santo Inácio, em sua meditação sobre o reino, espera daqueles que, submetidos a essas nobres super-demandas sobre si mesmos, estão preparados para um serviço alegre e fiel do eterno Rei. Se a Congregação conseguir despertar no coração de seus membros aquela atitude autenticamente cristã e estável mencionada na eleição dos Exercícios com estas palavras: “... que em tudo o que diz respeito à vida espiritual, seu progresso será proporcional à sua rendição do amor próprio e de sua própria vontade e interesses ” 25 - então algo decisivo ocorreu no Reino de Deus.
Muito foi escrito, muito foi dito sobre a questão de saber se as palavras milenares de inspiração no vocabulário da Congregação, como bandeira, cavalaria e Acies Ordinata ainda tocam a sensibilidade da juventude moderna. Na Alemanha, pelo menos, a opinião mais prevalente sustenta que tais palavras repelem secretamente nossa geração. A quintessência do espírito da Congregação certamente não reside em fitas azuis, nem em faixas esvoaçantes, nem em procissões e impressionantes congressos mundiais. Por outro lado, a verdade bíblica do chamado de Cristo para a batalha entre Jerusalém e Babilônia sempre reterá sua realidade e liberará sua força motriz novamente em todas as gerações. Somente a habilidade do verdadeiro professor é necessária para traduzir essas verdades fundamentais em imagens modernas para os jovens de hoje. De novo e de novo, faremos essa descoberta surpreendente. Todo cristão que é possuído pelo espírito da juventude considera essas verdades mais atraentes. Elas são básicas na estruturação da alma e são alcançadas através dos Exercícios Espirituais da Congregação.
MARIA APONTA O CAMINHO
Nos Exercícios, Inácio pretende inculcar a convicção de que apenas a semelhança com o pobre e crucificado Senhor do mundo garante a vitória; é significativo que ele apresente a contemplação da Encarnação com uma riqueza de detalhes tão amorosa, em contraste notável com o seu estilo conciso usual. A razão é que, à maneira de Sua "vinda", Cristo revela o plano pelo qual deseja salvar o homem e, por meio dele, o destino e a sorte dos homens são decididos.
No centro deste evento, descobrimos a pessoa humilde de Nossa Senhora. Entre o trono real das Três Pessoas divinas e o inferno, no centro da Divina Commedia, fica a câmara interna da Virgem de Nazaré, e dentro dela foi tomada a decisão mais secreta de toda a história humana: Ecce Ancilla Domini: Eis a serva do Senhor. Diante dela, o exercitador ficou impressionado. Ele pede apenas uma coisa: “... a graça de seguir e imitar mais de perto Nosso Senhor, que acabou de se tornar homem para mim.” 26
Não foi por acaso na história que a primeira Congregação em Roma foi dedicada ao mistério da Anunciação. Tampouco foi pura coincidência que, em 1522, Inácio em Montserrat tenha feito a dedicação de si a Maria na festa da Anunciação. Naquela ocasião, ele ofereceu suas armas para sua Rainha e trocou suas roupas mundanas pelo vestido de peregrino.
Sob o patrocínio de sua Rainha, ele se afastou da vaidade do mundo em direção ao pobre Cristo. Esta é a conversão, que deve ocorrer na alma de todo congregado. Esta é a realização na ordem espiritual do fato jurídico de que toda Congregação é agregada à Primaria da Anunciação. Todo fato real de Cristo, todo crescimento em uma "idade adulta genuinamente católica" dentro da Congregação significa imitar o Fiat de Maria, seu desígnio na redenção do mundo por Cristo. Este é o Fiat que aceita a Cruz de Cristo que desafia tudo o que é nobre na alma, que anseia por um seguimento mais perfeito do Cristo sofredor. Dessa maneira, o congregado deve aprender, através da Congregação, a amar Maria como a Rainha exaltada pelos magos. Ela é Nossa Senhora da Insatisfação Cristã. Ela o levará à cruz.
CONQUISTANDO O MUNDO VERDADEIRO ZELO NASCIDO DA GENEROSIDADE
Quase automaticamente o terceiro insight deriva do primeiro e do segundo. A alma que se negou mesmo à medida do serviço altruísta, até à identificação desejada com o Crucificado, ocupa seu lugar entre aqueles que não são mais surdos, mas “rápidos” e “amorosos”. 27 Isso quer dizer que sempre e sem reservas, estão à disposição de seu Rei e essas palavras da Primeira Semana estão sempre em seus lábios: “O que devo fazer por Cristo?” 28 Aqui encontramos a prontidão para a ação apostólica nascida de uma vida interior caracterizada por um Cristo - abnegação, uma receptividade inteiramente nova para a cooperação mundial na obra redentora de Cristo na batalha contra o padrão de Satanás.
Isso é muito mais do que um mero atraso pela atividade externa da Igreja. Isso não significa atividade apostólica na conotação freqüentemente depreciativa desse termo, que significa organização, nem apenas uma concentração estreita em um problema particular da Igreja. Para quem morreu para si mesmo em Cristo, todas as portas são subitamente abertas. Somente aquele que, em sacrifício próprio, ofereceu seu próprio coração, é um seguidor de Cristo equipado e pronto para toda forma de empreendimento apostólico. Nos exercícios, o interior e a vida apostólica são apresentados em sua perspectiva cristã, ou seja, em uma perspectiva equilibrada. Um homem que quer apenas mais em sua vida interior encontra tudo pronto para ele na vida exterior. Há apenas uma limitação: o amor ilimitado e intensamente árduo de Cristo e Sua obra.
Somente as almas dos mais (que são desta maneira com toda a simplicidade cristã) estão em posição de se sentirem chamadas a todo tipo de serviço pela salvação de seus semelhantes, a autêntica obra apostólica de Cristo Rei, que está sempre presente no militante da Igreja. Essa prontidão para cooperar na obra de Cristo é vitalmente necessária para toda Congregação; caso contrário, a Congregação permaneceria como já é aos olhos de muitos, um espectro piedoso, aquele tipo de organização que Pio XII, em seu discurso de 21 de janeiro de 1945, descreveu assim: “A Congregação não é uma organização piedosa para o cultivo de piedade serena e inativa, um refúgio para almas piedosas, um refúgio tranquilo onde não há combate nem cruz.” 29 A Congregação deve verificar a lei fundamental de toda a vida espiritual dentro da Igreja: na proporção do grau em que um homem coloca à disposição de Cristo Rei com uma vida alegre e íntima, ele se torna apto a testemunhar, a dar testemunho dos vivos, exigentes e combatentes de Cristo. Ele está pronto, alerta o suficiente para ocupar seu lugar na linha de batalha onde quer que seja necessário, com as mãos fortes e seguras que só eles possuem; estes que primeiro sacrificaram seus corações.
Mais uma vez, é o nosso atual Santo Padre que propôs esse ideal de prontidão apostólica à Congregação quando se dirigiu ao Congresso Internacional de Barcelona, em 7 de dezembro de 1947. O Papa disse: “Esta deve ser a marca distintiva da Congregação, que todos os dias adapta-se de novo e com agilidade aos problemas multifacetados da Igreja e às mais diversas circunstâncias da atualidade e, no entanto, permanece sempre fiel aos requisitos essenciais de sua espiritualidade e apostolado.” 30 Aqui, neste ideal da Congregação, discernimos o verdadeiro e correto equilíbrio entre piedade e atividade. Na Congregação não deve se cultivar - o Papa continua dizendo no mesmo discurso - nenhuma mera piedade interior e tímida incompatível com as palavras de Nosso Senhor: “Eu virei lançar fogo sobre a terra!” 31 Novamente, em outra passagem, o Santo Padre aplica para o genuíno entusiasmo da Congregação pela ação, as palavras das Escrituras: “Pode um homem esconder fogo em seu seio e suas vestes não queimarem?
INICIATIVA JUVENIL
O desejo de ação independente, de aperfeiçoar a si mesmo e aos outros por iniciativa própria, é uma característica fundamental da juventude. Em 1610, Pe. Coster disse o seguinte em seu Libellus Sodalitatis: “Realmente não é difícil manter os jovens fiéis ao dever enquanto estão sob a supervisão de seus professores. Mas devemos providenciar, em primeiro lugar, que eles tornem a piedade tão própria que permanecerão fiéis à virtude, não por qualquer forma de coerção, nem pela mera ambição de se distinguir, nem por qualquer outro motivo, mas porque eles próprios cultivam o temor de Deus e se dedicam a estudar por causa de um ardente amor a Deus; que eles não servem aos olhos, mas permanecem fiéis à fé nas profundezas secretas de seus corações, bem como em público. Este foi um assunto sobre o qual os Padres da Companhia de Jesus refletiram intensamente. Eles se perguntaram: como podemos levar os jovens que nos foram confiados a esse ponto? Chegaram à conclusão de que é muito importante uni-los em uma Congregação governada por leis piedosas e santas à qual se ligariam interiormente a viver uma vida justa e santa.” 33 É assim, como Pe. Joseph Miller observa, que a Congregação se torna parte de um processo genuinamente educativo. A Congregação captura o desejo dos jovens pela independência. Isso a fim de adotar um princípio fundamental da pedagogia moderna, a saber, que todos os esforços em prol da juventude devem levá-la a uma aceitação independente do mundo dos valores.
O que dissemos sobre Congregações estudantis também se aplica a toda Congregação genuína. A orientação para a responsabilidade deve ser um princípio central, que a escuta atenta do chamado à colaboração no reino de Deus, que a prudência e, ao mesmo tempo, a execução corajosa das convicções criem um segredo da alma na vida pública, e até “ ... promovendo nas assembleias nacionais e como chefes de Estado, leis que estejam de acordo com os princípios do Evangelho e a justiça social ”, como diz Pio XII em sua Bis Saeculari. 34 Nesse sentido, todo congregado deve ser jovem. Ele é jovem, que sempre pode começar a fazer algo desde o início. No eternamente novo reino de Cristo, toda conquista é um novo começo e todo começo já é uma vitória secreta. Somente com essas pessoas Cristo pode começar a fazer alguma coisa.
MARIA PRESENTE EM TODAS AS CRISES
Já na primeira semana, o exercitador está diante da cruz de seu rei e se pergunta: “O que devo fazer por Cristo?” 35 Mas esse Cristo que desceu e “veio” é Aquele que passou por Maria. Assim, quando o exercitador da segunda semana se ajoelha com Maria e José diante do recém-nascido Bebê de Belém no estábulo, acende nele a mesma nobre disposição para ajudar a Cristo e fazer algo por Ele: “Eu me farei um pobre escravo indigno e pobre, e como se estivesse presente, olhe para eles, contemple-os e sirva-os em suas necessidades com toda homenagem e reverência possíveis. ”36 Essa é uma dramatização autenticamente cristã da história da salvação que aqui e agora ele pode traduzir imediatamente em ação. Até os dias atuais, Jesus precisa da minha ajuda e eu sempre serei um 'servo inútil' 37 diante de Jesus, que está presente na Igreja. Nesse assunto, Maria é o meu modelo, pois eu a vejo e São José “trabalhando para que Nosso Senhor nasça em extrema pobreza, a fim de que (que expressão ousada!) depois de muitos trabalhos, depois de fome, sede, calor e frio, depois de insultos e ultrajes, Ele possa morrer na cruz, e tudo isso por mim ”.38 Esse apelo fica cada vez mais forte até o clímax dos exercícios, quando o exercitante toma sua decisão de escolher os melhores meios para ajudar a Cristo. O exercitador está agora pronto para tomar seu lugar sob o estandarte do pobre e crucificado Cristo. Maria, mais uma vez, põe-se em primeiro plano: “... obter para mim de seu Filho e Senhor [a graça] a ser recebida sob Seu Padrão.” 39 Ela é Nossa Senhora da Eleição. Maria fica na encruzilhada onde o caminho do heroísmo se abre diante do exercitador nas contemplações que ele faz simultaneamente sobre a vida de Cristo, onde vê como Cristo Nosso Senhor “... deixou Sua Mãe para se dedicar exclusivamente a o serviço de Seu Pai eterno ”.40 Os Exercícios traçam um retrato distinto de Maria, no qual ela é apresentada sob um aspecto duplo.
Primeiro, ela é a mulher humilde dos Evangelhos. Ela está sempre desaparecendo em segundo plano, apenas para ressurgir repentinamente em algum estágio crítico da formação do exercitador. Agora ela se torna a nobre Senhora, assumindo seu papel de Rainha na vida do cristão. Ela colabora como fez na vida de seu filho. Após o exemplo dela, devemos formar toda a nossa colaboração no reino de Deus.
SERVIÇO HUMILDE NA IGREJA VISÍVEL UNIDADE COM A HIERARQUIA
O que dissemos até agora ainda requer esclarecimentos adicionais. Os Exercícios concluem com as regras “para promover a verdadeira atitude mental que deveríamos ter no sentir da Igreja (= servir à Igreja)” .41 Isso não é por acaso. Se é para ser e permanecer autêntico, esse desejo de amar ilimitadamente a Cristo deve receber orientação, controlada, por assim dizer, pela vontade salvífica de Deus visível em Sua Igreja. Quanto maior a vontade de servir e a prontidão para as coisas, mais devem ser testadas.
A obediência à Igreja hierárquica e o serviço humilde e comum na Igreja visível constituem a prova infalível. Nosso entusiasmo por Cristo deve ser governado pelas demandas concretas de nossa vida apostólica cotidiana. 'Para ajudar almas' - para Inácio e seus primeiros companheiros, isso significava, precisamente devido à força de seu entusiasmo, um serviço sóbrio na Igreja do Papa de Roma, ameaçado por tantas tempestades (como era) e sobrecarregado por tantas necessidades.
Eles se uniram para formar uma nova ordem. Pois eles perceberam que todo entusiasmo apostólico deve tomar forma definitiva, se é para durar, que sua vontade ardente necessitava das constituições de uma Sociedade, para permanecer autêntica e ter em si o poder de uma renovação perpétua.
Na Congregação, também, os elevados conceitos do Padrão, a Legião a serviço do Rei pode facilmente degenerar em meras palavras de ordem. A prontidão para todos os tipos de serviço pode deteriorar-se em uma atividade difusa e multifacetada, naquele tipo de atividade apostólica contra a qual até o Papa alertou, chamando de 'heresia da ação'. 42 Nada é mais difícil, nada mais nobre do que manter o verdadeiro entusiasmo casto, vigilante e sóbrio. A participação da Congregação na Ação Católica deve manter sua característica inconfundível.
Essa característica se origina do ideal de “pensar com a Igreja” e, nos exercícios espirituais, encontrou sua expressão clássica. Para colocar em uma frase de Santo Ambrósio, é o ideal de sobria ebrietas - uma ebriedade sóbria. Significa estar sempre pronto para fazer tudo por Cristo, gastar tudo por Ele, mas em fidelidade silenciosa, em um trabalho sóbrio e amor por detalhes, em cooperação sem conversas vazias e, acima de tudo, em sujeição dócil à direção hierárquica da Igreja.
Em um sentido ou outro, essas palavras de Pio XII devem ser verificadas em todas as Congregações: "Desde o início, as Congregações de Nossa Senhora tomaram para si como seu grito de guerra as Regras 'para sentir com a Igreja'. Além disso, as Congregações parecem ter fomentado essa inclinação natural de obedecer às diretrizes daqueles a quem o Espírito Santo colocou sobre a Igreja, ou seja, os bispos. Portanto, as Congregações têm sido e continuarão a ser um aliado poderoso dos bispos na difusão do reino de Cristo. ”43 Moldada por esse espírito dos Exercícios, a Congregação se torna uma verdadeira Acies Ordinata: um exército colocado em ordem de batalha.
A JUVENTUDE SE RESSENTE DA MERA TEORIA
O entusiasmo juvenil deve ser temperado pelas exigências do serviço diário na Igreja visível. Esse aspecto final do ideal proposto pelos exercícios corresponde a uma tendência encontrada na juventude, especialmente na juventude moderna, que já viu bastante planos visionários e slogans vazios.
Felizmente, o Reino de Deus na Terra não é apenas um esquema arejado, um programa teórico, puro e simples; é uma realidade aqui e agora. É um inquestionável crescimento inegável da maturidade, como a semente de mostarda sofre, apesar de toda a teorização dos 'botânicos espirituais' sobre as possibilidades desse crescimento. Quem ainda tem olhos jovens vê todos os dias novas tarefas na Igreja, muitas vezes pequenas e modestas, sem glamour.
A autêntica Congregação treina seus membros a abrir os olhos para a Igreja, militante e sofredora, em sua peregrinação terrena. Para colocar isso com mais precisão e de uma maneira mais cristã, a Congregação deve tornar-se um amigo corajoso de Nosso Senhor Jesus Cristo visível na Igreja moderna, Cristo que aqui e agora quer continuar a luta com a ajuda de Seus amigos fiéis que entendem Suas necessidades e O vêem no próximo. Por causa de suas origens, a Congregação deve ser uma associação que permanece para sempre jovem em espírito, que se dedica à tarefa em questão e quer produzir algum bem concreto e tangível, que possa obedecer e subordinar-se a algo maior que ele.
A genuína Congregação deve sempre desconfiar da mera teorização, assim como desconfia de todas as críticas meramente teóricas de certos elementos da Igreja, por mais perturbadoras que sejam essas criticas.
Mesmo os menores e mais ocultos atos de caridade, uma palavra animadora para quem está em perigo, um dever da vida cotidiana melhor desempenhado, são mais do que meras palavras, pois é somente dessa maneira que o misterioso Reino de Deus toma posse de nossa terra.
A IGREJA SE ASSEMELHA A MARIA
A quarta semana dos Exercícios, durante a qual o Senhor da Glória que fundou a Igreja exerce Seu Ofício de “Consolador” 44, estabelece as bases para esse toque final dos Exercícios, a saber, reunir todo o entusiasmo pela luta sob o Patrocínio do Crucificado e direcioná-lo para o serviço cotidiano da Igreja. Cristo aparece primeiro a Sua Mãe. 45 Contra objeções aparentemente sábias, Santo Inácio insiste nisso.
Através da oração, devemos perceber que Maria também está presente quando começa a glorificação do mundo redimido, que é perpetuado na Igreja. No abraço do Salvador Ressuscitado e de Sua Mãe, essa graça começa a operar na alma do exercitador quando nosso “Criador e Senhor pessoalmente se comunica com a alma devota…, a inflama com amor a Si mesmo e a dispõe pela maneira pela qual ela poderá servir melhor a Deus no futuro ”. 46 Isso é um mistério e, portanto, essa tomada do mundo nos braços do amor divino permanece escondida na força terrena do militante da Igreja. Como foi com Maria, assim é com a Igreja.
O mistério de seu primeiro encontro ocorre na pequenez de seu ambiente terrestre. A Igreja, em meio ao tumulto da cidade deste mundo, é o humilde oratório de Maria. A Igreja é a noiva de Cristo, na qual insufla o mesmo espírito que está em Cristo 47 - nossa “Santa Mãe, a Igreja hierárquica”. 48 Nesta indissolúvel combinação de humildade e glória, a Igreja é precisamente como Maria. Se um homem entendesse essa verdade, penetraria no verdadeiro mistério da Igreja. Para ele, a Igreja é Mãe e Rainha; Mãe em sua forma terrena de humildade, Rainha em sua glória secreta. E assim, fazer e sofrer tudo na Igreja, por menor que seja, espetacular ou humilde, é realmente digno de sua dedicação sincera. Todo congregado deve ser um cristão. Se ele é, o que o papa disse será verificado: “As Congregações podem mais corretamente ser chamadas de Ação Católica sob os auspícios e inspiração da Bem-Aventurada Virgem Maria.” 49
Com extraordinário senso dogmático para o que é apropriado e correto, Inácio faz a Virgem Maria aparecer e desaparecer durante os Exercícios. Este deve ser o nosso modelo para resolver todas as questões sobre o lugar que a devoção a Maria deve assumir na Congregação. O centro da salvação é cristológico.
O que nunca devemos perder de vista: por ser a Serva do Senhor, Maria é sempre nossa Rainha. Assim deve ser a formação espiritual dos congregados.
Maria nos leva a Jesus, mas entendemos Jesus apenas como o Filho de Maria. A profunda teologia dos Exercícios, preocupada com Maria e Jesus como "mediadores" na ascensão à glória do Pai, se origina nas profundezas da mística inaciana. É o melhor modelo para nos mostrar como a Congregação deve moldar e esculpir a alma genuinamente católica. Do lugar que a Mãe de Jesus ocupa na história da salvação, percebemos que a dedicação que o congregado faz de sua vida é, na realidade, sua recepção sob o Patrocínio de Cristo. O Papa Pio XII, em sua alocução de 21 de janeiro de 1945, diz o seguinte: “... uma completa dedicação (dom) de si mesmo por toda a vida e pela eternidade; não se trata de pura formalidade nem de sentimentalismo; é uma consagração eficaz que consiste em uma vida mariana intensamente cristã, uma vida intensamente apostólica.” 50
O PAPEL DE MARIA NA CONGREGAÇÃO
Vamos dizer mais uma palavra sobre o lugar de devoção a Maria na Congregação. Por desígnio, ao longo de nosso artigo, colocamos o elemento mariano em último lugar. Nossa intenção era essa. Desejamos rastrear a estrutura interna da Congregação de volta à sua fonte, isto é, as verdades fundamentais dos Exercícios Espirituais.
Estávamos ansiosos por definir primeiro o contexto teológico e depois o psicológico nos quais a devoção a Maria assume grande importância e um novo significado. Por meio dessa abordagem, achamos mais fácil evitar as armadilhas nas quais os escritores muito recentes da Congregação caíram às vezes, a saber, a controvérsia a respeito de que lugar a devoção a Maria deveria ocupar, o que pode facilmente se tornar um pseudo-problema.
Isso é particularmente verdadeiro se começarmos a refletir apenas se a devoção a Maria é um meio ou um fim e se há uma diferença entre veneração e consagração ou patrocínio, se Maria deve ser considerada mais do ponto de vista subjetivo do que de seu lugar na economia da salvação. Todas essas questões podem ser discutidas com lucro, mas somente depois de esclarecer mais questões importantes.
Nosso ponto de partida é a fórmula de Bis Saeculari, a constituição apostólica, obrigatória para todas as Congregações.
“Essas Congregações devem ser chamadas de Congregações de Nossa Senhora, não apenas porque recebem o nome da Santíssima Virgem Maria, mas principalmente porque cada congregado faz uma profissão de devoção especial à Mãe de Deus e se dedica a ela por uma total consagração, comprometendo-se, embora não sob a pena de pecado, a esforçar-se por todos os meios e sob o patrocínio da Santíssima Virgem por sua própria perfeição e salvação eterna, bem como pela de seus próximos. ” 51 Com essas palavras, seria uma interpretação errônea óbvia concluir que a Congregação é principalmente uma organização para honrar Nossa Senhora.
O artigo XI declara o contrário: “Entre os fins primários da Congregação deve ser considerado todo tipo de apostolado, especialmente o apostolado social para a propagação do reino de Cristo e a defesa dos direitos eclesiásticos.” E o artigo X: “É o dever das Congregações de Nossa Senhora de treinar seus membros ... para que possam ser propostos como modelos para os companheiros da vida cristã e do esforço apostólico. ” 52 Essas não são duas proposições contraditórias.
De acordo com uma declaração expressa do reverendo Wladimir Ledochowski, padre geral da Companhia de Jesus até sua morte em 1941, a veneração de Maria na moral tem exatamente o mesmo lugar que ocupa no pensamento, na oração e na piedade católica. Este não é um princípio quase dinâmico, capaz de mudar nossa veneração a Maria. Estamos todos conscientes e prestamos testemunho feliz do fato de que a Mariologia e a devoção a Maria estão atualmente se destacando em toda a Igreja.
No plano de desenvolvimento da salvação e no progresso que a revelação apostólica está constantemente fazendo em direção a uma maior explicitação, esse desenvolvimento deve ser integrado asceticamente. A mariologia está cada vez mais emergindo em nossa compreensão consciente da fé, ou, para ser mais preciso, está se movendo na direção de seu centro cristológico. Ao fazê-lo, está divulgando com ainda mais clareza sua relação com a Igreja, de modo que a Congregação também alocará a Mariologia àquela posição de importância que se torna constantemente mais clara na mente da Igreja moderna.
CONCLUSÃO
Neste esboço esquemático em que tentamos derivar dos Exercícios Espirituais o significado espiritual da Congregação, podemos mostrar ainda mais e com lucro como uma reconsideração das origens da Congregação pode proporcionar uma revitalização constantemente nova de qualquer Congregação. Onde quer que uma Congregação retorne ao seu primeiro começo (seu primeiro espírito), uma nova e surpreendente vida aparece.
Assim como os Exercícios moldaram os homens da Companhia de Jesus que experimentaram através do discernimento dos espíritos uma batalha titânica entre Cristo e Satanás; homens que entenderam, através de sua identificação com o Cristo crucificado, que a vitória nesta batalha pertence apenas àqueles que seguem Jesus em espírito de oração e total abnegação; homens que vêm de seu retiro demitidos por todo tipo de serviço em nome de seu rei, que querem conquistar o mundo inteiro; homens que sabem como concretizar seu entusiasmo através de uma rendição corajosa e humilde à Igreja; - assim, a autêntica Congregação deve moldar os cristãos que, cheios de uma santa insatisfação, são fervorosos seguidores da Cruz e valentes servos da Igreja.
O ideal deles é Nossa Senhora, que esmagou a cabeça da serpente, que ficou embaixo da cruz e que simboliza a Igreja.
4ª Reunião
18 REGRAS PARA SE SENTIR COM A IGREJA
352 Para o verdadeiro sentido que devemos ter na igreja militante, guardem-se as regras seguintes:
353 1. Deposto todo o juízo próprio, devemos ter o espírito preparado e pronto para obedecer em tudo à verdadeira Esposa de Cristo, nosso Senhor, que é a nossa santa Mãe a Igreja hierárquica. [170].
354 2. Louvar a confissão ao sacerdote e a recepção do Santíssimo Sacramento, uma vez no ano, e muito mais, em cada mês, e muito melhor, de oito em oito dias, com as condições requeridas e devidas. [18].
355 3. Louvar a assistência freqüente à missa, e igualmente cantos, salmos e longas orações, na igreja e fora dela; e também a determinação de horas destinadas para todo o ofício divino e para toda a oração e todas as horas canônicas.
356 4. Louvar muito a vida religiosa, a virgindade e a continência, e não louvar tanto o matrimônio como nenhuma destas. [14,15].
357 5. Louvar os votos religiosos, de obediência, pobreza e castidade e de outras perfeições. É de notar que, como os votos se fazem sobre coisas que se aproximam mais da perfeição evangélica, não se devem fazer de coisas que nos apartam dessa perfeição, como de ser comerciante ou de casar-se, etc.
358 6. Louvar as relíquias dos Santos, venerando-as a elas e rezando-lhes a eles. Louvar estações, peregrinações, indulgências, jubileus, bulas da cruzada e velas acesas nas igrejas.
359 7. Louvar constituições sobre jejuns e abstinências, como as da quaresma, das quatro têmporas, vigílias, sexta e sábado; e também as penitências, não somente internas, mas também externas. [82].
360 8. Louvar os ornamentos e os edifícios das igrejas e também as imagens e venerá-las pelo que representam.
361 9. Louvar finalmente todos os preceitos da Igreja, tendo prontidão de espírito para buscar razões para os defender, e, de modo nenhum para os criticar.
362 10. Devemos ser mais prontos para aprovar e louvar tanto as diretrizes e recomendações como o comportamento dos nossos Superiores do que para os criticar. Porque, mesmo que a conduta de alguns não fosse tal como deveria ser, falar contra ela, ou em pregações públicas ou em conversas, na presença de simples fiéis, originaria mais críticas e escândalo do que proveito. E assim, o povo viria a irritar-se contra os seus superiores, quer temporais quer espirituais. De maneira que assim como é prejudicial falar mal dos Superiores, na sua ausência, diante do povo humilde, assim pode ser proveitoso falar da sua má conduta às pessoas que lhes podem dar remédio. [41].
363 11. Louvar a doutrina positiva e escolástica, porque assim como é mais próprio dos doutores positivos, tais como S. Jerónimo, S. Agostinho e S. Gregório, etc. mover os afetos, para em tudo amar e servir a Deus, nosso Senhor, assim é mais próprio dos escolásticos, tais como S. Tomás, S. Boaventura e o Mestre das Sentenças, etc., definir ou explicar para os nossos tempos [369], as coisas necessárias à salvação eterna, e refutar e explicar mais todos os erros e todos os sofismas. Porque os doutores escolásticos, como são mais modernos, não só se aproveitam da exata inteligência da Sagrada Escritura e dos Santos Doutores positivos, mas ainda iluminados e esclarecidos pela graça divina, ajudam-se também dos concílios, cânones e constituições da nossa Santa Mãe Igreja.
364 12. Devemos evitar fazer comparações entre os que estamos vivos e os bem aventurados de outrora. Porque não pouco nos enganamos neste ponto, quando dizemos, por exemplo: "Este sabe mais que Santo Agostinho é outro ou mais que São Francisco, é outro São Paulo, em bondade, em santidade, etc". [2].
365 13. Para em tudo acertar, devemos estar sempre dispostos a que o branco, que eu vejo, acreditar que é negro, se a Igreja hierárquica assim o determina. Porque creio que entre Cristo, nosso Senhor, esposo, e a Igreja, sua esposa, não há senão um mesmo Espírito que nos governa e dirige para a salvação das nossas almas. Porque é pelo mesmo Espírito e Senhor nosso, que nos deu os dez mandamentos que é dirigida e governada a nossa Santa Mãe Igreja.
366 14. Embora seja muita verdade que ninguém se pode salvar sem ser predestinado, e sem ter a fé e a graça, contudo deve-se ter muito cuidado no modo de falar e de se expressar sobre todas estas coisas.
367 15. Habitualmente não devemos falar muito de predestinação; mas se, de alguma maneira e algumas vezes, se falar, faça-se de maneira que o povo simples não venha a cair nalgum erro, como acontece, algumas vezes, ao dizer: "se tenho de me salvar ou condenar, já está determinado, e não é por eu fazer bem ou mal que pode acontecer outra coisa. E assim relaxam-se e descuidam as obras que conduzem à salvação e ao proveito espiritual de suas almas".
368 16. Da mesma forma, devemos acautelar-nos de que, ao falar muito da fé, e com muita insistência, sem alguma distinção e explicação, não demos ao povo ocasião de ser desleixado e preguiçoso nas obras, quer antes da fé ser informada pela caridade quer depois.
369 17. Também não devemos falar tão abundantemente nem com tanta insistência, da graça que se gere o veneno de suprimir a liberdade. De maneira que da fé e da graça pode falar-se, quanto seja possível, com ajuda da graça divina, para maior louvor de sua divina majestade, mas não de tal forma e com tais modos, sobretudo nos nossos tempos tão perigosos, que as obras e o livre arbítrio sofram algum prejuízo ou sejam tidos por coisa de nenhuma importância.
370 18. Embora devamos estimar, sobretudo o serviço intenso de Deus, nosso Senhor, por puro amor, devemos, contudo louvar muito o temor de sua divina Majestade [65]. Porque não somente o temor filial é coisa piedosa e santíssima, mas mesmo o temor servil, quando outra coisa melhor e mais útil não se pode conseguir, ajuda muito a sair do pecado mortal. E, uma vez que se sai dele, facilmente se chega ao temor filial que é totalmente aceite e agradável a Deus, nosso Senhor, por ser inseparável do amor divino.
Apêndice
virtudes morais, virtudes teologais1
INTRODUÇÃO
Os filósofos anteriores ao cristianismo falavam da virtude perfeita para qualificar a maneira nobre e acabada do ser humano; mas moviam-se em um âmbito puramente natural. A Igreja fala além disso de virtudes sobrenaturais, que Deus comunica graciosamente ao ser humano e que, quando são vividas em plenitude, conformam a santidade. Na proclamação dos santos não se faz outra coisa que investigar e sancionar que naquela vida existem provas de que tenha praticado, em grau heróico, as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade, assim como as virtudes cardeais da prudência, justiça, temperança e fortaleza, com as virtudes anexas.
A virtude – e as obras virtuosas – é o que dá o toque de perfeição no ser e no agir da natureza humana; sobretudo se o ser natural vem elevado e enobrecido pelas virtudes sobrenaturais, já que “a graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa”.
IDÉIAS PRINCIPAIS
1. O que é a virtude
Diz-se que a natureza é o princípio radical das operações; a natureza, pois, não é operativa em quanto tal, mas o faz mediante as potências ou órgãos quando é natureza corpórea: vemos com os olhos, ouvimos com os ouvidos, conhecemos com a inteligência. Se são exercitadas, as potências e órgãos adquirem formas estáveis de atuação, ou hábitos operativos, que, se são bons, são chamados de virtudes; se maus, vícios. A virtude, portanto, é uma qualidade boa, que aperfeiçoa de modo habitual as potências, inclinando o ser humano a fazer o bem.
2. As virtudes morais
As virtudes mais excelentes são as virtudes teologais (fé, esperança e caridade) que se referem diretamente a Deus; mas também são importantes as virtudes morais, que aperfeiçoam o comportamento do individuo nos meios que conduzem a Deus. Se pensamos no modo de adquiri-las, umas são virtudes naturais ou adquiridas, pois são conseguidas com as forças da natureza; outras, sobrenaturais, se são concedidas por Deus, de modo gratuito. As virtudes teologais sempre são sobrenaturais ou infusas; mas virtudes morais podem ser adquiridas ou infundidas por Deus.
O ser humano pode realizar atos bons com as forças naturais, adquirindo virtudes. Por exemplo: a sinceridade, a laboriosidade, a discrição, a lealdade… As principais virtudes morais – chamadas também cardeais – porque são como o gonzo (o ponto de apoio das portas grandes), o fundamento das demais virtudes – são a prudência, a fortaleza e a temperança.
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A prudência é a virtude que dispõe a razão prática para discernir – em toda as circunstâncias – nosso verdadeiro bem, escolhendo os meios justos para realiza-lo.
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A justiça é a virtude que nos inclina a dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido, tanto individual como socialmente.
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A fortaleza é a virtude que no meio das dificuldades assegura a firmeza e a constância para praticar o bem.
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A temperança é a virtude que refreia o apetite dos prazeres sensíveis e impõe a moderação no uso dos bens criados.
Além das virtudes cardeais, o ser humano deve praticar as outras virtudes morais, especialmente a da religião, a humildade, a obediência, a alegria, a paciência, a penitência e a castidade.
3. Virtudes naturais e graça sobrenatural
Às vezes é difícil viver as virtudes naturais porque, depois do pecado original, o ser humano está desordenado e sente a inclinação ao pecado; mas Deus concede a graça que as purifica e potencia elevando-as à ordem sobrenatural, para que nos ajudem a obter o fim ao qual estamos chamados: a eterna bem aventurança, o céu. Então, as virtudes, sem deixar de ser naturais, são também sobrenaturais.
Com a ajuda de Deus, as virtudes naturais forjam o caráter e dão soltura na prática do bem. O ser humano é feliz ao praticar a virtude.
4. As virtudes teologais
Estando o ser humano elevado à ordem sobrenatural, as virtudes naturais por si só não bastam, ainda que sejam necessárias; e Deus concede ao cristão as virtudes teologais no momento do batismo, junto com a graça.
As virtudes teologais são a fé, a esperança e a caridade.
A fé é uma virtude sobrenatural pela qual – apoiados na autoridade de Deus – cremos nas verdades que Deus revelou e a Igreja nos ensina.
A esperança é uma virtude sobrenatural pela qual confiamos em que Deus nos dará a glória mediante sua graça e nossa correspondência a ela.
A caridade é uma virtude sobrenatural pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas – por quem é – e ao próximo por amor a Deus.
5. Dons do Espírito Santo
O edifício sobrenatural é coroado com os dons e os frutos do Espírito Santo. Os dons são perfeições sobrenaturais que Deus infunde para facilitar o exercício das virtudes, fazendo-nos dóceis aos impulsos do Espírito Santo. São sete: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.
Além dos dons – e como antecipação da glória do céu – são enumerados doze frutos do Espírito Santo:
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caridade,
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gozo,
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paz,
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paciência,
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benignidade,
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bondade,
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longanimidade,
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mansidão,
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fé,
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modéstia,
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continência
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castidade.
6. A caridade, virtude suprema
A caridade é a virtude mais excelente de todas, por ser a primeira das virtudes teologais, que são as virtudes supremas.
Quando se vivem de verdade, todas as virtudes estão animadas e inspiradas pela caridade. Como diz São Paulo, a caridade é o “vínculo da perfeição” (Colossenses 3,14), a forma de todas as virtudes.
7. Crescer nas virtudes
O cristão que intenta viver uma vida segundo Deus, conta com a graça divina e as virtudes, quer dizer, com todos os meios para conseguir o fim a que Deus o chama. Em conseqüência, com a ajuda de Deus e o esforço próprio, há de ir crescendo na virtude. Deus nunca abandona, e basta que lutemos para fazer o bem e viver a caridade – sobretudo – que, como temos dito, consiste em amar a Deus com toda a alma e a nós e ao próximo por amor a Deus.
1- “Curso de Catequesis”, Editorial Palavra, España. Traduzido por Pe. Antônio Carlos Rossi Keller